Parasitoses intestinais na infância

Garota com dor de barriga, um dos sintomas das parasitoses intestinais, deitada na cama

As crianças costumam interagir bastante com o ambiente ao seu redor. Isso ocorre por meio das mãos, pés e bocas, e esse processo é completamente normal. Afinal, é por meio deles que elas descobrem e reconhece gostos, texturas, formatos e, mais importante que tudo, adquirem e fortalecem a própria imunidade.

Porém, esse nível de interação, somado a fatores como maus-hábitos de higiene da família ou local, convívio social, carência de saneamento básico e contato com animais pode resultar na transmissão de várias doenças nocivas aos pequenos. Hoje, nosso foco será nas parasitoses intestinais.

O que são parasitoses intestinais?

Também conhecidas como enteroparasitoses, as parasitoses intestinais são infecções provocadas por:

helmintos ou “vermes”. Podem ser nematelmintos, de formato arredondado/cilíndrico, ou platelmintos, de forma achatada;
protozoários.

Ambos, em algum estágio de seu ciclo, alojam-se no aparelho digestivo do ser humano, podendo provocar uma série de complicações que afetam desde o estado físico até o psicossomático e social do paciente.

No entanto, não se preocupe com isso agora. Pode ficar tranquilo que, ao longo do texto, você vai entender como as parasitoses funcionam e, consequentemente, como evitá-las.

O perigo das parasitoses intestinais na infância

Existem vários estudos que comprovam que as parasitoses intestinais são capazes de debilitar o quadro de desenvolvimento físico, mental e social da criança. Isso ocorre porque podem:

  • prejudicar a nutrição do pequeno: protozoários como o Giardia Lamblia (responsável pela Giardíase), e vermes do gênero Schistosoma, por exemplo, podem causar diarreia intensa e vômitos. Ambos os quadros impedem a digestão correta dos alimentos, assim como a absorção destes, levando a criança a sofrer perda de peso, anemia, desnutrição e até mesmo anorexia.
  • ferir a integridade do seu sistema imunológico: em função da descompensação nutricional e, consequentemente, da falta de absorção de vitaminas e minerais necessários ao bom funcionamento do organismo, o sistema imunológico não é capaz de atuar da forma como deveria;
  • afetar na velocidade do crescimento e desenvolvimento da criança: pacientes desnutridos não conseguem acompanhar a curva usual de crescimento e desenvolvimento, seja pela falta de nutrientes, ou pelos sintomas que ela provoca (fadiga, desânimo, desaceleração dos batimentos cardíacos etc).

E quais são as parasitoses intestinais mais comuns na infância?

Ascaridíase

Responsável: Ascaris lumbricoides (também conhecido como lombriga) – helminto.
Alojamento no corpo humano: intestino delgado (podendo passar pelos pulmões).
Forma de transmissão: ingestão de água e alimentos contaminados pelos ovos do parasito, que contêm larvas infectantes.
Processo infeccioso: quando ingeridos, os ovos do parasito eclodem no intestino delgado. As larvas, livres, atravessam a parede deste, alcançando a veia cava inferior e migrando em direção aos pulmões, fazendo o trajeto: alvéolos – árvore brônquica – traqueia – faringe.
Sintomas: a maioria dos casos é assintomática. Porém, em situações mais complicadas, a ascaridíase pode provocar lesões hepáticas e pulmonares, subnutrição, obstrução intestinal, febre, tosse, bronquite, alergias e Síndrome de Loeffler (pneumonia eosinofílica).
Prevenção: higienizar bem os alimentos antes do consumo, prepará-los em locais limpos, cozinhá-los bem (quando necessário), beber água filtrada e manter a higiene pessoal em dia.
Tratamento: uso de vermicidas (Mebendazol, Ivermectina, Albendazol etc) e, em casos mais graves, cirurgia ou endoscopia para a remoção do parasito do corpo do hospedeiro.

Ancilostomíase (também conhecida como Ancilostomose ou Amarelão)

Responsáveis: Ancylostoma duodenale, Necator americanus e Ancylostoma ceylanicum.
Alojamento no corpo humano: intestino delgado (podendo passar para os pulmões).
Forma de transmissão: contato com o solo contaminado por fezes de agentes acometidos pela Ancilostomíase.
Processo infeccioso: as larvas penetram no corpo do próximo agente por meio da pele deste (principalmente a dos pés). Dentro do corpo, elas atingem a corrente sanguínea, fazendo o trajeto: coração – pulmões – brônquios – traqueia – boca – esôgafo – estômago – intestino delgado.
Sintomas: coceira na região da pele que teve contato com as larvas, anemia, dor epigástrica, diarreia, vômito, perda de peso e apetite, alergias, tosse e respiração ruidosa.
Prevenção: evitar andar descalço, não deixar que o pequeno coloque as mãos na boca se estas estiverem, anteriormente, em contato com o solo, e ter bons hábitos de higiene pessoal.
Tratamento: uso de remédios antiparasitários (Albendazol ou Mebendazol), e suplementação de ferro (para combater a anemia).

Esquistossomose (também conhecida como Xistose, barriga d`água ou mal do caramujo)

Responsáveis: Schistosoma mansoni.
Alojamento no corpo: intestino delgado
Forma de transmissão: contato com água contaminada
Processo infeccioso: a cercária, larva do Schistosoma mansoni presente na água, penetra na pele do hospedeiro e se torna um esquistossômulo. Este, por sua vez, entra na corrente sanguínea e migra até o intestino “da vítima”, onde coloca seus ovos.
Sintomas: na maioria dos casos, a esquistossomose é assintomática e possui duas fases. Em quadros mais graves, a primeira fase apresenta vermelhidão e coceira no local que esteve em contato com o parasita, fraqueza, febre, falta de apetite, diarreia, vômito, calafrios, dores musculares e tosse. Já na segunda, os sintomas costumam ser cãibras, dor abdominal, palpitações, tonturas, emagrecimento, presença de sangue nas fezes, barriga d`água, aumento do baço, endurecimento do fígado, cirrose e hemorragia.
Prevenção: não andar descalço em riachos de água doce, e nem próximo a eles, evitar contato dos pés com a rua (principalmente em épocas de chuvas e enchentes) e beber somente água filtrada.
Tratamento: ingestão de antiparasitários (praziquantel ou oxamniquina).

Teníase

Responsável: Taenia solium (hospedeiros suínos) e Taenia saginata (hospedeiros bovinos).
Alojamento no corpo humano: intestino delgado.
Forma de transmissão: ingestão de carne crua ou mal cozida, de porco ou boi, que estava contaminada pelo parasita.
Processo infeccioso: ao ser ingeridos junto à carne contaminada, as larvas da Tênia se alojam no intestino, desenvolvem-se, atingem a forma adulta e começam a liberar, nas fezes, as partes do seu corpo que contêm ovos e órgãos reprodutores.
Sintomas: dor abdominal, diarreia, enjoo, tontura, perda ou aumento de apetite, perda de peso, fraqueza, dor de cabeça, cansaço, insônia e irritabilidade.
Prevenção: não ingerir carnes de porco e boi cruas ou mal passadas, manter os hábitos de higiene pessoal em dia (principalmente lavar as mãos antes das refeições), limpar bem os alimentos com água filtrada antes do consumo, e beber água fervida, mineral ou de filtro.

Estrongiloidíase

Responsável: Strongyloides stercoralis.
Alojamento no corpo humano: intestino delgado.
Forma de transmissão: contato com superfície contaminada, ou ingestão de água e alimentos acometidas pelo parasita.
Processo infeccioso: as larvas infectantes do parasita Strongyloides stercoralis, presentes no solo, penetram no corpo do hospedeiro através da pele e chegam até a corrente sanguínea deste. O trajeto que elas fazem pelo organismo, então, é: pulmões – estômago – intestino. Após alcançarem o último destino, as larvas se alojam neste e começam a se reproduzir, podendo atingir o tamanho de até 2,5mm. Em caso de ingestão de água ou alimentos contaminados, elas vão direto para o estômago e, depois, intestino delgado.
Sintomas: manchas avermelhadas no local da pele em que as larvas entraram em contato, diarreia, dor abdominal, falta de apetite, náusea, vômito, tosse seca, crises de asma e até mesmo falta de ar.
Prevenção: higienizar os alimentos antes de consumí-los, ingerir água filtrada, evitar andar descalço em solos de terra, areia, asfalto e/ou lama, lavar as mãos antes das refeições e tratar a doença corretamente.
Tratamento: uso de medicamentos antiparasitários (Albendazol, Tiabendazol, Nitazoxanida etc).

Giardíase

Responsável: Giardia lamblia
Alojamento no corpo humano: intestino delgado
Forma de transmissão: ingestão de água e alimentos contaminados pela Giardia.
Processo infeccioso: depois de ingerido pelo hospedeiro (ou de ser colocado em contato com as mucosas deste), o Giardia lamblia entra na corrente sanguínea, viaja até o estômago e se estaciona no intestino. Lá, ele se encasula e é eliminado pelas fezes do hospedeiro.
Sintomas: a Giardíase pode ser assintomática, principalmente em adultos. Em casos mais sérios, porém, provoca dores abdominais, diarreia, inchaço, perda de peso, gases, azia, fezes amareladas, desnutrição e anemia.
Prevenção: lavar bem as mãos, principalmente antes das refeições, higienizar os alimentos antes de comê-los, beber água filtrada ou fervida.
Tratamento: uso de medicamentos antiparasitários (Metronidazol, Secnidazol, Tinidazol etc).

Amebíase

Responsável: Entamoeba histolytica.
Alojamento no corpo humano: intestino delgado
Forma de transmissão: ingestão de água e/ou alimentos contaminados pelo parasita, ou ainda contato direto com as fezes do hospedeiro acometido pelo Entamoeba histolytica.
Processo infeccioso: depois de ingerido pelo hospedeiro (ou de ser colocado em contato com as mucosas deste), o Entamoeba entra na corrente sanguínea, viaja até o estômago e se estaciona no intestino. Lá, ele libera cistos infectantes que são eliminados pelas fezes do hospedeiro.
Sintomas: costuma ser assintomática. Porém, quando apresenta sintomas, são eles: dor e cólica abdominal, fadiga, gases, dor durante a evacuação, fezes pastosas com presença de muco e/ou sangue, perda de peso, diarréia, febre, vômito.
Prevenção: lavar bem as mãos, principalmente antes das refeições, higienizar os alimentos antes de comê-los, beber água filtrada ou fervida.
Tratamento: saneamento básico, ingestão de medicamentos como metronidazol, secnidazol, helmizol etc, e prescrição de remédios que possam controlar as náuseas.

Como proteger o seu pequeno das parasitoses intestinais?

Além de seguir todas as dicas que disponibilizamos aqui, é importante se atentar a algumas boas práticas para que seu filho não adquira alguma parasitose intestinal na infância. São elas:

  • colocá-lo em creches/escolinhas localizadas em regiões com bom saneamento básico;
  • vigiá-lo para que ele não coloque as mãos no chão e depois as leve até a boca;
  • evite que ele ande sem chinelos e sapatos, principalmente perto de lagos, e em solos, asfaltos e superfícies que tenham contato com água parada;
  • ensiná-lo a beber água somente de filtros, e oferecer somente esta a ele (caso não seja possível, ferva a água).

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Texto originalmente publicado no portal Convite à Saúde

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